Sáb, 21 de Janeiro de 2012 12:44
Numa
grande vitória dos moradores do Pinheirinho, uma decisão do Tribunal
Regional Federal – 3ª. Região suspendeu, nesta sexta-feira, dia 20, a
ordem de reintegração de posse da Ocupação, em São José dos Campos. A
decisão foi tomada pelo desembargador federal Antonio Cedenho, da 5ª
Turma do TRF.
O
desembargador determinou que a União passasse a integrar o processo por
conta do interesse do Governo Federal na área. Assim, o processo será
deslocado da Justiça Estadual (da juíza Márcia Loureiro) para a Justiça
Federal.
Não cabe recurso às instâncias superiores, enquanto a turma de desembargadores do Tribunal não analisar a decisão.
A
decisão revalida a liminar concedida, dia 17, pela juíza substituta
Roberta Monza Chiari momentos antes da execução da reintegração de posse
pela Tropa de Choque da Polícia Militar. Nessa liminar, a juíza Roberta
Chiari reconhece o interesse da União no caso e cita ofício do
Ministério da Cidade pedindo adiamento da reintegração.
A medida é em resposta ao Agravo de Instrumento impetrado pelos
advogados dos moradores, em que pediam o reconhecimento do interesse da
União no caso e que fosse deferida uma liminar impedindo a execução da
ordem de despejo.
“Hoje
é dia de festa na periferia. Continuamos insistindo que a solução
definitiva não está no Judiciário, mas no Executivo. O prefeito Eduardo
Cury tem a obrigação de negociar junto aos governos federal e estadual
para que possamos encontrar uma saída pacífica que beneficie os
moradores do Pinheirinho”, afirma o advogado dos moradores Antonio Donizete Ferreira.
Reportagem: o outro lado do Pinheirinho
Luciana Cândido, direto de São Jose dos Campos
Aproveitamos
a relativa calma da quarta-feira, 18, para passear pelo Pinheirinho e
conhecer melhor seus moradores. O cartunista Carlos Latuff nos
acompanhava e postava fotos dos lugares por onde passávamos em seu
Twitter. Ele veio do Rio de Janeiro especialmente para visitar o bairro,
um apoio muito importante para aquela população.
Voltamos à casa de Priscila e Reginaldo
nesta quarta-feira. Quando chegamos, Priscila estava com as roupas
todas do lado de fora, separando para levar no caso de ser retirada pela
polícia – e também para secar, pois estavam úmidas da chuva que quase
não para. A pequena Pâmela, de apenas um mês, chorava no colo da mãe.
Pablo, o filho de três anos, assistia desenho animado dentro da casa.
Reginaldo estava trabalhando fora.
A
casa é pequena, mas foi construída pelo próprio Reginaldo, que é um
homem muito criativo. No jardim, ele separou um cantinho para as
crianças, que decorou com brinquedos de todos os tipos. Reginaldo fez
para os filhos. Ao fundo, a plantação recebe o nome de Sítio do Ricardo.
“Ricardo era o nome do irmão do Reginaldo. Ele morreu de câncer. O
Reginaldo plantou o feijão formando o nome dele. Já está crescendo, dá
para ver um pouco”, contou Priscila.
No
pequeno rancho da família, também tem mandioca, melancia, cebolinha,
banana entre outras plantas. Eles vivem disso e da reciclagem, atividade
muito comum no Pinheirinho. Priscila contou que o filho Pablo é muito
inteligente. Tentando imitar o trabalho do pai, ele brinca com a enxada.
Ela mostrou umas pedras que enfeitam o jardim de brinquedos que foram
colocadas por Pablo. “Perguntei para ele ‘o que você está fazendo?’ E ele disse ‘é pra ficar bonito, mãe’.”
Perguntamos como tinham passado a noite de segunda para terça, quando quase aconteceu a invasão. “Eu
lembrei muito de vocês, pensei ‘eles devem estar lá na frente’. O
Reginaldo foi lá, mas não viu vocês. Também, era muita gente”, comenta Priscila.
Ela
contou que ficou com as crianças na igreja, local destinado para
resguardar as crianças, os idosos e os deficientes no momento da
invasão. “Como foi na hora que você recebeu a notícia?”, perguntamos. “Nossa, foi uma choradeira só, aquele monte de mães”, respondeu.
Pâmela parou de chorar. “Ela sente, eles sabem que tem alguma coisa ruim acontecendo”, lastimou Priscila.
Nós nos despedimos e seguimos andando. O Pinheirinho é grande e ainda havia muitas ruas para percorrer.
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